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Água Viva


Todo o azul do rio sentia em mim. Todo movimento que fazia refletia-se em sua superfície e mal conseguia enxergar sua profundidade e muito menos o quanto desse azul se desaguava em mim. As minhas veias pulsavam como se já pressentiam um dilúvio. Cada fio capilar atiçou-se com o uivo do vento e todo o verde da mata sentia ao meu arredor. Fora de si a rede capturou cerca de 7 ou 8 pelo pé os deixando de ponta a cabeça. Mas isso já era fora de mim. Cobrindo-se de pele e um vermelho que pertencia ao outro, mas que foi tomado a força marcado na pupila do verde que agora não era mais tão verde assim. FORA DE SI. Contudo dentro de mim já avistava todo o azul que estava por vir. Fui desafiada a ir mais a fundo. Ser-ei-a. O que não foi me permitido ser antes. Permitido por uma sentença minha. FORA DE MIM. Explorou. Tomava o significado pelo pé da palavra com goles exorbitantes. Verbo transitivo. Até a última gota. Até seus lábios secarem e sua barriga inchar. Não sobrou nada além de seu ego que o fez naufragar. DENTRO DE NÓS. Somos seres com liquidez, transpirando a essência do ser, transbordando entre os dedos, seguindo por quilômetros entre bifurcações nesse curso d’água, fluindo e se mesclando a outros fluídos. Deixando vestígios do mais sutil toque. Ou vestígios de um completo dilúvio. Fluiu pela silhueta das suas curvas seu curso. VELEJEI. Cada cavalo marinho dançava a meio os feixes de luz que refletiam no azul dentro de mim. No leito onde as águas corriam calmas entre as pedras foi possível caminhar entre elas descalço sem se machucar. E a corrente movia-me para a queda. Acho que todo final seria esse. A queda. Seria desaguar, ou melhor, mergulhar a fundo em si. E aí esse é o fim. Ou o recomeço de mim. Submergi.

Somos águas vivas em um mar de sentimentos.


- Nágela Khalil


Até mais, e obrigado pelos peixes!


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